sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Esconderemos as nossas feridas?


Se eu vou ser criticada para dentro do partido político que componho? Certamente. Mas os olhares de questionamento sobre o que eu sou, todas as vezes que eu entro em um espaço de organização política, usando um vestido curto ou uma roupa justa, me são uma crítica muito mais dura, muito mais injusta, muito mais cruel.


Este ano eu completei 10 anos de filiação ao Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras. Minha mãe preencheu minha ficha de filiação. A mulher que me deu exemplos a vida inteira, que nunca me impôs nada. Minha maior referência de luta feminista. E nós nem sabíamos disso 10 anos atrás.


Aos 20 anos eu fui trabalhar no prédio da Prefeitura da Cidade de Recife. Inicialmente, eu ficaria na função onde comecei, por apenas dois meses e após esse período, eu seria transferida para algum cargo administrativo. Nunca aconteceu. Eu passei 15 meses como auxiliar de serviços gerais. Na minha ficha cadastral tinha escrito: auxiliar de higiene. Eu recolhia o lixo, varria, limpava os móveis, passava pano no chão, lavava os banheiros, recolhia ‘bitucas’ de cigarro em meio aos escarros na área de fumantes. Vocês não fazem ideia de como as pessoas podem ser sujas. E fazer sujeiras. Para além do lixo. Para além do espaço físico.


70 % dos homens deste espaço, me olhavam como se fossem me deitar no chão a qualquer momento. Eu vivia acoada, assustada, com medo. Paralelo a isso, 85 % das mulheres que trabalhavam comigo, a equipe da limpeza, me tinham como rival e garantiam aos 4 ventos: “ela vai subir dormindo com algum deles.” Sim, eles também acreditavam nisso. Me davam presentes, me levavam café, me convidavam para jantar, almoçar… as mulheres me maltratavam por isso. Prejudicavam meu trabalho. Fiquei uma semana lavando o mesmo chão, depois de uma colega de trabalho ter colocado vaselina no meu detergente. Como eu já disse acima, não mudei de função. Pedi demissão.


Um desses homens vai merecer aqui uma atenção “especial.” As salas reservadas às funcionárias responsáveis pela limpeza do prédio, eram cubiculos apertados, em sua grande maioria, banheiros desativados ao público e ativos apenas ao nosso uso. Lá usávamos nosso período de descanso e fazíamos nossas refeições. Esse homem ia na porta todos os dias. Nunca batia. Nunca batia. Me fazia convites, lambia os lábios enquanto falava comigo, levantava meu rosto pelo queixo, quando eu o baixava, com vergonha. Durante todo o tempo que eu suportei isso, foi tudo o que ele tocou em mim: queixo. E me feriu.


Então, longos anos depois, a candidata à reeleição, Presidenta Dilma, junto ao ex Presidente Lula, vem até Recife fazer uma caminhada. No meio da multidão, eu revejo este homem. Jovem homem. Aperto, muita gente, muito mais gente, ele para atrás de mim que estava sufocada, sendo arrastada pela multidão e começa a passar a mão em mim, enquanto falava no meu ouvido: “gostosa, vira mais pra cá, eita coisa boa...” Eu não tinha como me defender. Nem gritar. Nem esboçar reação. Estava extremamente assustada. De novo.


Este homem não faz a mínima ideia de quem eu sou e do que ele provocou. Em primeiro lugar, alguns questionamentos: que formação estamos proporcionando aos nossos homens militantes, quando à luta das mulheres? Que tipo de organização político partidária somos, se em nossos fóruns e nossas teses, reafirmamos nossos compromissos com a luta em nome do empoderamento e da autonomia das mulheres e expomos uma companheira, a transformando em secundária perante os debates de auto análise?


É inadmissível que uma mulher tenha que passar por tantas dores dentro de uma sociedade machista, patriarcal, branca, hétero, burguesa e que na sua tentativa de construir um espaço que deveria ser voltado à encorajemento, ela se sinta também impotente, constrangida, insegura. Para além dos nossos gritos (conversas de bar, textos, artigos, desabafos), os diretórios e instâncias deliberativas partidárias, precisam antes de tudo, admitir que a violência existe, pra que depois, possamos encaminhar medidas de formação e conscientização dos “nossos homens.” Aqueles que nos chamam de companheira, mas que nos apostam em rodas de cerveja.


Curemos nossas feridas na verdade, no jogo aberto, na honestidade, no olho no olho e acima de tudo, no respeito às dores que não sentimos e pelas quais temos que assumir responsabilidades. Somos o partido que mudou a realidade de um povo, que incluiu, que ouviu, que se fez ouvir. Não vamos agora, esquecer de um grupo de pessoas, apenas por não queremos olhar para nosso próprio umbigo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Recado Dado.

Foi pra ele, mas podia ter sido pra mais um monte. Com vocês: rala limitado.

'Vacilão', eu vou te pedir respeito numa publicação que está te desmentindo, porque a partir do momento que tu insiste em dizer que uma cantada dada por um homem rico vira elogio e sendo eu, a dizer que não, tu tais ME chamando de puta e eu não to curtindo. Não que ser puta me deslegitime. Tem que ter muito cacife pra ser puta. Entretanto, não o sou. Tem um debate sério tentando ser colocado aqui. Tem um grupo de mulheres dizendo que este tipo de cantada é invasivo, abusivo, desrespeitoso, nojento e as tuas INFELIZES COLOCAÇÕES colocam todas elas como mentirosas. Nós muitas vezes analisamos o que vivemos, pelo que aconteceu nas nossas vidas. É o chamado conhecimento empírico: É o conhecimento obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, o conhecimento adquirido através de ações não planejadas. Sendo um pouco mais direta, tais falando da tua própria realidade, sem ao menos se dar ao trabalho de fazer um estudo do todo. Não estamos aqui limitadas às mulheres de baixa renda e belos corpos, que fazem uso deles pra receberem valores financeiros. A essas, as cantadas de homens ricos não são cantadas: são propostas. Mas eu entendo que seja mesmo bastante difícil olhar a frente dos 100 metros mais próximos. Acontece que o mundo é maior que isso, que mulheres deixam de ir nas padarias pra não serem agredidas verbalmente, porque eu vou te contar: VOU CHUPAR SUA BOCETA não é carinho quando um estranho me fala isso sussurrando em uma rua escura. Dito à uma puta, ela volta e diz o preço. Dito à uma mulher acoada, o medo se instala, a insegurança persiste e não é uma avaliação chula de quem dá e de quem recebe que nos fará avançar. Sem mais, eu vou ali ver se hoje quem vai dizer que me comia na esquina, é um cara pobre ou um cara rico, porque, oh, eu não me sentirei ofendida se ele falar isso, mas pagar o meu sorvete.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Nominar pra que?


Todas as vezes que eu vou começar um texto para publicar em páginas próprias, minhas, sem ser a coluna séria para onde eu escrevo semanalmente, ou as notas que por vezes eu escrevo em nome da Secretaria Municipal onde trabalho, eu lembro daquela regra de não fazer perguntas no primeiro parágrafo e me lembro na sequência, que no meu espaço, eu posso tudo. Assim funciona também o sexo. Em uma ação de tantas possibilidades, questionamentos, apontamentos, deliberações, entregas, ausências, permissões, cada um é responsável pelo que quer para si. Em uma ação de mais pessoas, cada um é responsável por fazer com que o outro entenda os anseios, desejos, esperas. Na compreensão, gozo. Na compreensão, mais de uma vez. E vejam, eu não fiz nenhuma pergunta. Nenhuma.

Depois de ter feito algumas escolhas - preservação do corpo, elevação do espírito - ela se viu sendo convidada à entrega e sem nenhum momento de dúvida, deu-se, como a ele, sempre fez. Talvez você nunca tenha precisado fazer esta análise na sua vida, mas tente: já imaginou o quanto é difícil à uma feminista, a permicividade? Bem, eu lhes digo que é bastante difícil. Em primeiro lugar, pela necessidade de se fazer compreender, com todas as vírgulas que cabem à uma compreensão. Vestir, escrever, falar, pedir, expor, se expor. A linha entre o real e o pscicótico, aos olhos de quem não entende, é quase invisível. Então, como ser feliz com tantos porques? Como entender que nem todos os homens entenderão os pedidos por delicadeza, quando você demonstra apenas força? Como dizer a ele, que você já chegou em uma altura da vida, onde as relações podem ser separadas? Como fazer com que ele entenda que vocês querem coisas diferentes um do outro e que nem por isso, o que ele quer deixa de ser interessante pra você? Não, ele não vai entender lendo mais um texto, ou tendo mais uma conversa. Ele só vai entender vivendo isso, que ela tanto diz querer fazer que funcione. Que ela tanto briga pra fazer funcionar.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

8 anos da Lei Maria da Penha - O poder de uma luta


É com muito orgulho que comemoramos, mas é preciso dizer o que comemoramos. Desejávamos não precisar comemorar uma lei que pune agressores. Desejávamos comemorar a conscientização sobre os direitos das mulheres, mas enquanto não, precisamos garantir mecanismos que responsabilizem e punam aqueles que cometem crimes. Em muito já avançamos. Em muito precisamos avançar. 


LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Mulheres, o processo eleitoral e a lacuna democrática


A cada dois anos, o país passa pelo processo democrático que elege xs representantes do povo, nos âmbitos municipais, estaduais e nacional. A corrida pela ocupação dos cargos é em muitas vezes desleal. Candidatas e candidatos com maior poder aquisitivo, saem a frente. Candidatas mulheres tem seus obstáculos ampliados por sua condição de gênero. A sociedade patriarcal que já lhes é bastante excludente, afunila ainda mais. Mulheres disputando lugares historicamente ocupados por homens? Não pode. Não pode? 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Carta Pra Não Ser Lida (parte 3)


Hoje, por carência, saudade ou loucura e dependendo de quem sinta, alcançam a mesma intensidade, eu fui reler nossas conversas. “Nossa, mas que coisa doentia.” Bem, eu acho que doente é quem faz e não admite que faz, ou, quem apaga conversas com medo de sofrer, apavorado pela possibilidade de sentir falta. Eu li me divertindo e sim, sentindo falta e não é uma questão de apego. Eu sou artista. Preciso buscar. Vezes no passado, vezes no futuro. Eu busco.


Busquei por algumas horas o bom. Pulei todo e qualquer parágrafo de ofensa, de maltrato, mas não os nego. Aconteceram. Só que, em que isso podia me acrescentar? Duas coisas são certas: não posso te agradecer pelo bem e não posso te condenar pelo mal. Assim sendo, por que não fazer a opção pelo belo, pelo que soma, pelo que colore?


Nos três meses que nos falamos todos os dias, menos nas poucas horas que dormíamos (entre 4 e 9 da manhã), tivemos tempo de ser tanta coisa boa. Reli que eu te agradeci por ter feito barreira pra eu fazer xixi na rua e por ter tomado cerveja comigo do lado dos vendedores de drogas e te vi responder que faria de novo. Vi incontáveis conversas de ‘webcam’ ligada, onde só tem texto teu, porque eu ficava usando o microfone e não entendi nada do que li. Vi que tu disse que eu parecia uma música de Nina Simone. Vi que tu comemorou comigo meu emprego novo, digitando com muitas letras repetidas a palava ‘maravilha.’


Eu vi que várias vezes eu te provoquei a ficar irritado e de cá, eu tinha certeza de que só tava fazendo isso, pra ver se tu ia embora de vez, porque eu não queria me despedir devagar. Eu me li te perguntando se tu queria me ver e te li respondendo que sim, que muito. Eu te li agradecendo por uma mensagem de voz, onde eu falava sobre a noite passada, que cada um em um lugar, a gente ficou se olhando, rindo, sem dizer uma palavra. E como é engraçado lembrar disso, porque foi tão forte, que parece que foi ontem. A gente assumiu nossos defeitos tantas vezes e eu elogiei tantas vezes a tua barba.


Passei pelo dia que tu me viu chorar e chorei de novo. Não, não. Não era de tristeza dessa vez, mas era daquela e tu tava lá, entendendo. Chorando junto. Vi alguns debates sobre machismo, discrição, entrega, exposição e por esses trechos, eu passei rápido. Discordávamos sobre eles e sempre tive total certeza de que podíamos discordar até sempre. Por muitos momentos, nos li cúmplices.


Não tem como ser resumo, nem artigo, nem ensaio de fotografia de janelas. Mas, foi bom poder reler textos, ouvir de novo algumas músicas, me deliciar mais uma vez com belíssimas paisagens. É isso o que se leva das pessoas. O que elas deixam de melhor. O que elas deixam, porque a elas mesmas, é impossível deixar. Somos o que somos e nos acompanhamos por certo (e curto) tempo, porque não sentimos a necessidade de fincarmos e talvez, tenha sido esse o erro da compreensão. Eu nunca te quis. Não de verdade. Eu quis o que tínhamos e testei até onde pude, como seria não ter mais. Bem, não tenho e posso finalmente contar como é: é exatamente igual ao que era antes de você, só que outros textos, outras músicas, outras paisagens, que hoje, eu contemplo em outras companhias.
E na última coisa que eu li hoje, tu dizia que meu coração duro, podia ser doce. Ele sempre foi e eu sinto muito por ter construído muros tão sólidos, mas talvez, eles tenham mesmo me protegido. Eu só adiantei o processo, não fui devagar como os amores pedem. Não podia ser amor. Não podia ser além. “No fim a gente termina ficando mais ou menos meio igual.” As paixões rápidas tem a grande vantagem se serem rápidas. As paixões rápidas tem a grande desvantagem de deixarem coisas por fazer.


Eu nunca vou conseguir te ver dormir, nem acompanhar o desenvolvimento acelerado dos teus cabelos brancos. Eu nunca vou te ver tirando a roupa diante de uma câmera, nem nunca vou pousar nua em um quarto iluminado de pousada, sentada na janela. Mas quanto exagero. Nunca é tempo demais e cá pra nós, a gente pode realizar nossos sonhos com outros quadros. O que não vale e nunca valerá, é parar de revelar filmes e de buscar melhores enquadramentos e luz. Tu faz. Eu revelo. Eu, relevo.

domingo, 13 de julho de 2014

Quem Vaia?

As pessoas que vaiaram a presidenta Dilma, são pessoas que não reconhecem os avanços do país. Que nunca precisaram estudar em Escola pública e hoje, ocupam vagas nas universidades federais, que os pobres continuam pagando (em impostos). Nunca na história desse país, pobre pode viajar de avião. HOJE PODE. Nunca na história deste país, um pobre preto pode virar médico. HOJE PODE. Nunca antes na história desse país, as mulheres mães, donas de casa, puderam garantir seu empoderamento e dizer aos seus maridos que não precisam mais implorar a eles pelo dinheiro do leite das crianças, porque o Bolsa Família, que a classe média chama de esmola de vagabundo, garante a elas essa autonomia. Cursos como o PRONATEC e o Mulheres Mil, garantem formação e um dos critérios de "aceitamento" das pessoas, é serem de baixa renda. A classe média vaia, porque não sentiu as mudanças. A classe média vaia, porque assiste TV a cabo e toma 'Chandon'. Que povo sob condições de vida, baseadas em TER, vai lutar? Luta e repeita, o povo que sentiu na pele, que cresceu, que alcançou. Nosso papel agora, é pedir desculpas ao mundo. Não são as pessoas nesse estádio que representam nosso país. As pessoas que vaiaram Dilma, que mandaram ela tomar no cu (e não tenhamos vergonha de escrever isso), são as mesmas que vaiaram o hino chileno e me digam: vaiaram o Chile por corrupção? Não! Foi por desrespeito mesmo. Menos Rede Globo nas nossas vidas. Bem menos. Mais pesquisas, mais comprovações por fontes seguras. Acabou a copa e ‪#‎NãoVaiTerSegundoTurno‬.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Chile, Te Pedimos Desculpas.


Povo chileno então, pedimos desculpas por uma má educação, que lhes garanto, não é comum à nossa nação. Somos um povo novo, temos até pouca idade. 514 anos não nos parece maioridade.

Já recebemos em nossos corações, italianos, japoneses, construíram cidades. Apoiamos o povo haitiano, nos colocamos como possibilidade, sem jamais falarmos em superioridade. E vamos por um breve momento sair da rima. Estamos agora constrangidos e em um outro clima.


Mesmo que não nos seja positivo avaliar, as pessoas presentes nos estádios da copa, não são as pessoas que constroem no sangue e no suor, este país que vos recebe. O povo que acorda cedo, que trabalha de 10 a 12 horas por dia. As pessoas que ocupam os estádios da copa do mundo em grande maioria (e ocupam por um recorte histórico social), são pessoas que frequentaram escolas particulares, mas que dentro das suas casas, não tiveram uma educação baseada no respeito, na coletividade, na grandeza que é ver alguém crescer, entendendo que a vida é muito mais que o próprio umbigo.


As pessoas que vaiaram seu hino, vaiando assim sua história, sua luta, suas conquistas, são as mesmas que desrespeitaram para além da Presidenta da República, uma mulher, uma senhora de idade, ao lado da sua filha. São pessoas que se dizem defensoras da instituição da família, mas só quando se trata de suas próprias famílias. Pedimos desculpas por isso e assumimos uma responsabilidade: continuaremos lutando para que a educação do nosso povo, aquele que colore diariamente esse país e não só em copas do mundo, seja de qualidade, dentro e fora das salas de aula.


Somos o povo que em Olinda e Recife, desfila com os bonecos gigantes, que em Salvador, canta o hino nacional 'guiado' pelo Olodum, que em Fortaleza é elogiado por sua recepção impecável. Somos o povo que abraça, que indica o caminho do ônibus, que se desdobra para informar como chegar aos lugares, que tem tempero forte e que acima de tudo, quer que vocês voltem. E que voltem respeitosos como foram até o último instante, permanecendo em campo depois de sua eliminação do campeonato. O mundo viu o quanto o povo chileno merece respeito, por respeitar. Esperamos vocês, nós aqui, do lado de fora dos estádios e do lado de dentro do espetáculo que essa nação é.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sobre Amor, Negação, Mercantilização, Violência, Loucura e Outros Desastres


“Na alegria, ou na tristeza… até que a morta os separe…” Por que? Porque eu tenho que estar triste ao lado de alguém? Porque eu tenho que morrer nesta tristeza? E da mesma forma que eu respondo quando me dizem que não posso fazer questionamentos no primeiro parágrafo, com delicadeza, eu digo: não, eu não tenho. Não, eu não vou.

Nos últimos dias eu me vi tendo que responder para algumas pessoas, sobre eu estar paranóica quanto a pauta feminista. Que “não é assim tão sério…” Que talvez eu esteja ficando louca, levando tudo ao pé da letra, transformando tudo em polêmica. O mais triste e se formos analisar sem seriedade, o mais engraçado, é que essas observações, me vem de pessoas que sem notarem, estão se deixando levar pelo senso comum, pela cultura que segrega, explora, exclui. 

O tempo, a dinâmica, o meio, o mundo e a troca com ele, me fizeram crítica e eu não posso me sentir fraca diante disso. Todos os dias mulheres morrem graças à disfarces de uma sociedade patriarcal que nos ensina na publicidade, no cinema, na tele-dramaturgia, que nos convencem à submissão e ao silêncio. Dia desses eu estava em uma das lojas das redes C&A (que inclusive é acusada de exploração trabalhista) e uma coisa me chamou muito a atenção. Algumas das manequins, isso, aquelas bonecas que servem para demonstrar as peças, apoiadas nas mesas (com as peças) em posição sexy, corpo esticado, bunda empinada. Agora me digam: pra que? E eu lhes respondo: pra expor. E ainda sou eu a louca? Não, não sou. A pessoa que pensou neste modelo de divulgação também não é. É uma pessoa convencida pela cultura e pela sociedade, de que o apelo sexual na propaganda, gera retorno. Nessa perspectiva, nos questionemos novamente: porque a C&A e sua equipe responsável não colocam manequins masculinos,  sentados nas mesas, de pernas abertas?

Assistindo um filme brasileiro, S.O.S Mulheres ao Mar, mesmo rindo muito com a história, que trata da redescoberta de uma mulher recém “abandonada” pelo marido, com quem vivera 10 anos, não me passa despercebida a ausência de respeito de classe. Na trama, a mulher traída pouco valoriza o fato de ter sido enganada pelo homem que lhe jurou fidelidade e respeito e condena a amante: “vagabunda, piranha…” Você consegue mesmo não se perguntar por que? Eu não. Eu me pergunto e graças a minha loucura (é você quem diz), eu também consigo responder. É mais fácil julgar ela, bonita, livre, recém chegada nas nossas histórias de vida, estranha, do que julgar ele, homem com quem dividimos tantas alegrias e tristezas, pais dos nossos filhos, aquele que nos dá o braço nos eventos, que nós apresentamos às colegas da escola como nosso. Nosso? Exato, no plural. Divisível.

Mas para facilitar a compreensão, a sua, a minha, vamos sair do cinema classe média e falar da vida real, cotidiana, dura, pobre, violentada. Dentro do contexto social que classifica, separa em caixas, as mulheres negras e pobres, moradoras de áreas de risco com autos indices de criminalidade, são as que menos denunciam casos de violência doméstica e algumas informações sobre isso, precisam ser desmistificadas. A primeira delas é que essas mulheres gostam de apanhar e você pode não acreditar, mas sim, há pessoas que acham mesmo isso. Não, elas não gostam. Na maioria das vezes, essas mulheres são semi-analfabetas e casaram muito novas, abrindo mão assim, de algumas experiências. Logo foram mães e passaram a viver apenas para dentro de suas casas, marido e filhos. A primeira agressão começa muito antes da tapa e passa por gritos, humilhações, cárcere, negação de direitos, violência sexual, afastamento dxs filhxs. Por terem aquele homem como referência de cuidados, zelo e proteção, essas mulheres sentem medo de fazer a denúncia, porque a partir deste momento, a sociedade no seu entorno, vizinhos, famílias, saberão de seu sofrimento e além disso, é ou não é o é até que a morte os separe? “Foi o que o padre disse.” Assim, elas deixam passar a primeira, a segunda, a terceira e por muitas vezes, a vida. E você ainda vai insistir em me dizer que negar a si mesma o direito de cortar seu cabelo, porque seu “companheiro” não gostaria, não é um ato de violência e que eu sou a frustrada? 

Fica aqui registrado que a minha loucura, tem como maior e principal objetivo, que a insanidade deste mundo onde o centro da família é a fígura masculina, que aponta, julga e condena, amar e mudar as coisas. Que a loucura das mulheres e dos homens que lutam, é para que mais loucas e loucos se juntem à nós, porque se há uma coisa da qual o atual sistema de poder tem medo, é a participação, é a junção, é a luta coletiva. Que sejamos que cada vez mais loucas e loucos nas ruas, lutando contra a violência, contra a injustiça. Porque “mais louco é quem me diz e não é feliz” e nem luta pra mudar coisa alguma. 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A Quem Essas Perguntas Eram Feitas?

Estamos falando de um assunto, que dispensa teóricos e busca respostas no povo, na didática do povo. Eu escolhi um lado já tem bastante tempo e não, eu não nego os outros. Não nego quanto à existência, mas não o reconheço como legítimo. Qual estudioso fala sobre isso? 
Não acho que o PT é dono da verdade, mas, dentre as verdades, é a que mais condiz com a realidade que eu aceitei como modificadora de um sistema do qual eu discordo. Dima não é atacada por todos os lados. Se você desviasse os olhos um tanto dos grandes nomes da ciência política, só um pouquinho, saberia disso. O índice de aprovação dela, é inclusive maior que o do carismático Lula. Pesquisas também a apontam como eleita em primeiro turno. 
As vaias, as agressões, as apresentações de críticas infundadas, tem lado e você sabe qual é ele. Ela (a Dilma) não vai mudar este país, na perspectiva de avanço de mundo que você tem. Ela e o projeto político de esquerda, estão nos ensinando como faze-lo, inclusive, nos garantindo o direito à discordância. Nunca antes na história desse país, um povo teve tanto direito à vez e voz, ocupando as ruas, pra protestar contra as atrocidades do mundo capitalista e vale lembrar que, não foi o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras quem inventou o capitalismo. 
Em resumo, a copa, os estádios, as estradas, os aeroportos, todos os assuntos que durante décadas foram secundários, estão sendo debatidos hoje, porque agora, o povo tem acesso aos estádios, estradas e aeroportos, podendo então, questiona-los. Não é ruim ao governo ter a crítica. É ruim ao povo não entende-la. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Vai Ter Copa Sim



Vai começar e não é porque o PT quis, porque Dilma quis. Vai começar porque assim foi aclamado, inclusive, pelxs coxinhas, que hoje dizem que não vai ter copa. Nas eliminatórias, durante a escolha de sede para 2014, a mídia, a oposição, ninguém fazia campanha contra. Hoje, por tática eleitoral e golpista, tentam nos convencer de uma má escolha. Não, não estamos nos país dos nossos sonhos. Sim, estamos mais perto disso, do que 12 anos atrás. Não estou pedindo pra você usar verde e amarelo hoje, como se não houvesse amanhã. Há e nós não esquecemos disso. Estou pedindo apenas, que você direcione suas críticas a quem de fato as merece.

Vemos de vários lados, ataques sendo feitos e todos eles, eu disse todos eles, diminuem uma classe. Dizem que a população podre, a classe trabalhadora, vai assistir a copa, porque não tem acesso à informação, é alienada. E haja contradição, porque se é desinformada, são os grandes veículos (acompanhados em maioria pelas classes de menos poder aquisitivo) quem não tem a capacidade de informar com qualidade e se não alienados, bem... (.) É um jogo tão sem sentido, que não percebem que nem eles, com as grandes máquinas nas mãos, não conseguem manipular uma nação e entristecer uma paixão nacional. A mídia que critica o governo, porque quer outro governo, deixando clara a sua parcialidade e troca de interesses. Comunicação direcionada, companheiras e companheiros.

Nos vemos em um país onde médicas e médicos brancos, em grande maioria classe média, formadas e formados em Universidades Federais, pagas com os impostos dos pretos pobres, encabeçarem campanhas contra a vinda de médicas e médicos de Cuba, quando esses mesmos, brasileiras e brasileiros, não querem ocupar unidades de saúde em morros, favelas, áreas rurais. Onde funcionárias e funcionários fazem réplicas de impressões digitais para faltarem no trabalho e assim, deixam pessoas vulneráveis e sem atendimento médico. Onde se protesta contra o protesto do Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Sem Teto, tirando fotos dentro de carro importado, alegando que "por causa dessa gente, passou horas no trânsito..." Faremos a avaliação de grupos que fazem todas essas críticas, incluindo a copa, e veremos que, não faz diferença uma copa no Brasil, porque elas e eles, estão aproveitando as passagens promocionais das linhas aéreas para fora do país. 

É de extrema importância que consigamos, mesmo dentro das nossas análises críticas à gestão, separar informação e constatação de fatos, de frases de efeito. Não nos sentiremos acoadas e acoados pelos gritos, porque sim, temos palavra de ordem e temos consciência da desordem. Somos um partido e nem por isso, silenciamos diante de equívocos e acreditamos que sim, você pode não concordar com as ações do seu governo (fazendo isso de forma sensata), mas você precisa honrar a história e a luta do seu lugar. 


#VaiTerCopaSim.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Mulheres de Almodóvar

Como fosse escrito por Almodóvar, nosso grupo que antes viajaria em um coletivo, conseguiu uma carona aos 45 minutos do segundo tempo. Depois de voltas em quarteirões, entramos em mais uma rua errada e no errado, não por acaso, havia você. Com um 'Q' de comédia almodoveriana, a cena foi acontecendo bem devagar, com pitadas de sensualidade e delicadeza. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Explode.

        Eu queria poder ter em mim, um pouquinho do que cada um deixou, sem fazer a mínima ideia de que estava deixando. E tenho. Aprendi a guardar as coisas que eles acham que levaram. Nem foram tantos assim, mas o fato de me ter falando sobre eles, os que já foram, afasta os que chegam. Contraditório, não é? Como pode alguém chegar se o outro ainda há? É perfeitamente compreensível. A gente nunca está vazio.