quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sobre Amor, Negação, Mercantilização, Violência, Loucura e Outros Desastres


“Na alegria, ou na tristeza… até que a morta os separe…” Por que? Porque eu tenho que estar triste ao lado de alguém? Porque eu tenho que morrer nesta tristeza? E da mesma forma que eu respondo quando me dizem que não posso fazer questionamentos no primeiro parágrafo, com delicadeza, eu digo: não, eu não tenho. Não, eu não vou.

Nos últimos dias eu me vi tendo que responder para algumas pessoas, sobre eu estar paranóica quanto a pauta feminista. Que “não é assim tão sério…” Que talvez eu esteja ficando louca, levando tudo ao pé da letra, transformando tudo em polêmica. O mais triste e se formos analisar sem seriedade, o mais engraçado, é que essas observações, me vem de pessoas que sem notarem, estão se deixando levar pelo senso comum, pela cultura que segrega, explora, exclui. 

O tempo, a dinâmica, o meio, o mundo e a troca com ele, me fizeram crítica e eu não posso me sentir fraca diante disso. Todos os dias mulheres morrem graças à disfarces de uma sociedade patriarcal que nos ensina na publicidade, no cinema, na tele-dramaturgia, que nos convencem à submissão e ao silêncio. Dia desses eu estava em uma das lojas das redes C&A (que inclusive é acusada de exploração trabalhista) e uma coisa me chamou muito a atenção. Algumas das manequins, isso, aquelas bonecas que servem para demonstrar as peças, apoiadas nas mesas (com as peças) em posição sexy, corpo esticado, bunda empinada. Agora me digam: pra que? E eu lhes respondo: pra expor. E ainda sou eu a louca? Não, não sou. A pessoa que pensou neste modelo de divulgação também não é. É uma pessoa convencida pela cultura e pela sociedade, de que o apelo sexual na propaganda, gera retorno. Nessa perspectiva, nos questionemos novamente: porque a C&A e sua equipe responsável não colocam manequins masculinos,  sentados nas mesas, de pernas abertas?

Assistindo um filme brasileiro, S.O.S Mulheres ao Mar, mesmo rindo muito com a história, que trata da redescoberta de uma mulher recém “abandonada” pelo marido, com quem vivera 10 anos, não me passa despercebida a ausência de respeito de classe. Na trama, a mulher traída pouco valoriza o fato de ter sido enganada pelo homem que lhe jurou fidelidade e respeito e condena a amante: “vagabunda, piranha…” Você consegue mesmo não se perguntar por que? Eu não. Eu me pergunto e graças a minha loucura (é você quem diz), eu também consigo responder. É mais fácil julgar ela, bonita, livre, recém chegada nas nossas histórias de vida, estranha, do que julgar ele, homem com quem dividimos tantas alegrias e tristezas, pais dos nossos filhos, aquele que nos dá o braço nos eventos, que nós apresentamos às colegas da escola como nosso. Nosso? Exato, no plural. Divisível.

Mas para facilitar a compreensão, a sua, a minha, vamos sair do cinema classe média e falar da vida real, cotidiana, dura, pobre, violentada. Dentro do contexto social que classifica, separa em caixas, as mulheres negras e pobres, moradoras de áreas de risco com autos indices de criminalidade, são as que menos denunciam casos de violência doméstica e algumas informações sobre isso, precisam ser desmistificadas. A primeira delas é que essas mulheres gostam de apanhar e você pode não acreditar, mas sim, há pessoas que acham mesmo isso. Não, elas não gostam. Na maioria das vezes, essas mulheres são semi-analfabetas e casaram muito novas, abrindo mão assim, de algumas experiências. Logo foram mães e passaram a viver apenas para dentro de suas casas, marido e filhos. A primeira agressão começa muito antes da tapa e passa por gritos, humilhações, cárcere, negação de direitos, violência sexual, afastamento dxs filhxs. Por terem aquele homem como referência de cuidados, zelo e proteção, essas mulheres sentem medo de fazer a denúncia, porque a partir deste momento, a sociedade no seu entorno, vizinhos, famílias, saberão de seu sofrimento e além disso, é ou não é o é até que a morte os separe? “Foi o que o padre disse.” Assim, elas deixam passar a primeira, a segunda, a terceira e por muitas vezes, a vida. E você ainda vai insistir em me dizer que negar a si mesma o direito de cortar seu cabelo, porque seu “companheiro” não gostaria, não é um ato de violência e que eu sou a frustrada? 

Fica aqui registrado que a minha loucura, tem como maior e principal objetivo, que a insanidade deste mundo onde o centro da família é a fígura masculina, que aponta, julga e condena, amar e mudar as coisas. Que a loucura das mulheres e dos homens que lutam, é para que mais loucas e loucos se juntem à nós, porque se há uma coisa da qual o atual sistema de poder tem medo, é a participação, é a junção, é a luta coletiva. Que sejamos que cada vez mais loucas e loucos nas ruas, lutando contra a violência, contra a injustiça. Porque “mais louco é quem me diz e não é feliz” e nem luta pra mudar coisa alguma. 

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