quarta-feira, 11 de julho de 2012

Segurança. Segura a ânsia.




Estava me descolando da Mustardinha (subúrbio de Recife). O relógio marcava por volta de 16h. Peguei o ônibus, como de costume, na primeira parada após o terminal e estava com a cabeça recostada no vidro. Duas paradas depois, em frente a uma loja de acessórios de carro, dois jovens são abordados pela polícia. Dois homens, um em cada moto.
Quando ouvi a sirene, não me preocupei com os que me chamariam de curiosa e coloquei a cabeça pra fora. Não fui a única.
Não sei se há uma pesquisa sobre isso, mas, dentro da comunidade, ninguém espera por dados comprovados, pra dizer que: jovem, de cabelo em corte moicano, usando corrente de prata e pilotando a famosa cinquentinha, é ladrão. Infelizmente, esteriótipos são criados todos os dias e há os que aceitam sem muito questionamento. É como dizer que mulher de roupa curta é puta, que tatuado é vagabundo e maconheiro é ladrão. 'Ah, se eles soubessem a preguiça que dá depois de um baseado'.
Aqueles dois policiais foram treinados assim. Pra coagir todos e quaisquer esteriótipo "nocivo à sociedade". Eram homens grandes, daqueles que você tem medo até de olhar duas vezes. Saculerajam os meninos. Mandaram colocar mão na cabeça. Testículos apalpados. Não, não foi com o mínimo de educação. "Eita, os ovos dele ficaram mexidos", disse o senhor sentado atrás de mim. Pediram documentos, os dois apresentaram. Pediram pra abrir o compartimento da 'motoca' que fica sob o banco. Abriram e lá, não havia nada. Pronto. Mandaram que eles "saíssem saindo".
Pronto? Não vai pedir desculpas pelo constrangimento causado? Baseado em que aqueles meninos foram abordados? Foi o corte de cabelo? A cinquentinha?
Fui apenas espectadora, mas essas perguntas foram passando na minha cabeça e foi me dando agonia de pensar que mais ninguém estivesse inquieto ou inquieta como eu. Consegui organizar em 3 minutos, qual seria a ação justa: suspeito. Vou esperar ele passar da frente da loja e fazer sinal pra ele entre na rua. Tiro ele da Avenida, não o exponho e não tenho curiosos pra atrapalhar o meu trabalho.
Agora, imaginem a abordagem: Boa tarde, mãos na parede, por favor (é fato que o "suspeito" pode estar armado), recebemos uma denúncia que o senhor está portando certa quantidade de drogas e que estaria indo fazer uma entrega e por isso, eu preciso lhe revistar. Terminada a revista: Muito obrigada por sua colaboração e espero que entenda que estou fazendo o meu trabalho.
É, mas era o meu ideal. Nem tive muito tempo mais para "sonhar". As motos e as sirenes já estavam em outra direção. A cinquentinha também, levando para algum lugar, dois jovens que podiam apenas estar indo à padaria e que foram abordados e constrangidos em uma via pública e movimentada, dentro do lugar onde vivem e que agora, que podem estar absolutamente revoltados.
Seguem as motos. Segue a cinquentinha.