terça-feira, 9 de agosto de 2011

Não caia nessa Rede

Na última semana, um debate bastante relevante a sociedade Brasileira foi levantado,  quando a Rede Globo de televisão exibiu em seu horário nobre (novela da 21h, Insensato Coração) o assassinato de um homosexual, já há tempos perseguido e humilhado por grupos que disseminam o preconceito. Na trama, o menino gay, vindo do interior, conseguiu um “emprego” no mesmo dia que chegou ao Rio de Janeiro, amparado pela dona de um estabelecimento na orla carioca, que teve seu quiosque destruído em nome da intolerância de determinado grupo quanto a contratação de MAIS UM GAY para o lugar.  

Até aí tudo bem. Tudo bem? A Rede Globo de televisão fez a opção de mostrar uma morte no lugar de um beijo. É preferível a transmissão do ódio no lugar da transmissão do amor? Além disso, as contradições são muitas: As pessoas que sofrem com a  homofobia e saem de seus lugares de origem, tem bastante dificuldade de se organizarem em seus “novos lugares”. Almas caridosas são raras e isso não é uma particularidade carioca. Além disso, segundo a novela, o assassinato não se deu por um motivo específico. Diz-se que o ‘menino’ que cometeu o crime, tem um distúrbio e estava com problemas no dia. #ComoAssim? Eu agora tenho problemas com o meu namorado e saio matando lésbicas?

Ao meu ver, no mínimo emissora poderia ter envolvido a ‘criatura’ numa trama de preconceitos anteriores. Enfim, quem sou eu pra dar pitaco na toda poderosa Rede Globo?

Opa, mais um erro meu. Sou telespectadora e tenho sim o direito de dizer o que eu quero assistir. Mas tudo bem, já sabemos a resposta: “Não está contente? Mude”.

Mudo!

E essa, é só uma das escorregadas da tão eficiente rede, que pesa audiência X competitividade e no quesito ética, sempre perde.

Há meses, o apresentador Rafinha Bastos (Rede Record), fez uma piada de péssimo gosto em seu Twitter (rede social) dizendo que mulheres feias tinham  que ficar felizes com o estupro. Em entrevista a Marcelo Adnet (MTV) Rafinha disse que diminuiu consideravelmente suas publicações , tendo em vista que a tela de um computador não mostra reações. “Eu dizia as coisas e as pessoas não sabiam se eu estava fazendo uma piada, ou sendo irônico”, diz Rafinha, que foi duramente criticado por grupos de de defesas de gênero em todo país.

Agora vai passando quase despercebido  o “engraçado” quadro do programa de comédia Zorra Total da mesma criteriosa rede Globo onde um travesti que atende pelo nome de Valéria Vask encontra uma antiga “amiga feia”, Clarete, num vagão lotado do metrô de São Paulo. No quadro, Valéria diz a Clarete pra ela não reclamar dos homens que passam a mão nela. “Tu num reclama não que o negócio pro teu lado num tá bom”...

Pessoas acham engraçado. Pessoas não veêm probema algum em uma mulher ser tratada como nada tendo em vista um padrão de beleza, implementado pela própria rede, que agora faz piada com as pessoas diferentes do que eles “vendem”.

As situações seguem acontecendo em diferentes programas da rede e nenhuma  providência é tomada. Agora, eles lançam um documento que apresenta os PRINCÍPIOS EDITORIAIS DAS ORGANIZAÇÕES GLOBO e a gente tem que ler como se fosse um documento posto em prática. Balela.

Como sempre, surgirão defesas do tipo: Você citou um programa de comédia e agora fala de princípios jornalísticos?

É, eu devo ser mesmo muito burra de achar que uma rede de Comunicação tão ampla me deva respeito até em programas de humor. Ou não se sabe mais fazer pessoas rirem sem ofender outras pessoas?

A Rede Globo passou a pautar a legalização da Maconha. Você sabe por que? Porque dá audiência, porque afronta a Rede Record e porque sai na frente. Só. Não posso negar o ganho que defensores da Legalização tem com essa visibilidade, mas é preciso analisar que ganho é esse. O debate está realmente sendo feito ou vamos ficar somente ouvindo o Fernando Henrique Cardoso dando exemplos na Holanda?

A Rede Globo não permitiu que a imagem de Ronaldo “fenômeno” fosse destruída pela mídia. Você sabe por que? Porque Galvão Bueno não pode estar errado sobre um talento do futebol internacional.  Já Adriano, “O Imperador”, em 2 semanas virou traficante espancador de mulheres. Que fique claro: Não estou fazendo defesa ou acusação de qualquer parte. Só quero que fique entendido o trabalho que pode ser feito em cima da imagem de uma pessoa.

Eu posso fazer questão de uma rede de qualidade que me informe com veracidade e sem especulação. Eu posso, eu devo, você pode, você deve.