A cada dois anos, o país passa pelo processo democrático que elege xs representantes do povo, nos âmbitos municipais, estaduais e nacional. A corrida pela ocupação dos cargos é em muitas vezes desleal. Candidatas e candidatos com maior poder aquisitivo, saem a frente. Candidatas mulheres tem seus obstáculos ampliados por sua condição de gênero. A sociedade patriarcal que já lhes é bastante excludente, afunila ainda mais. Mulheres disputando lugares historicamente ocupados por homens? Não pode. Não pode?
“Há 75 anos o voto feminino, um dos pilares da luta das mulheres por seus direitos, ganhou no Brasil um importante impulso. Em 1934 foi consolidado o Código Eleitoral, que reformava outro marco na luta pelos direitos das mulheres. Ele retirava as exigências do Código Eleitoral Provisório de 1932, que passou a permitir o voto feminino com a imposição de que só as casadas com o aval do marido ou as viúvas e solteiras com renda própria teriam permissão para exercer o direito de votar e serem votadas. O Código de 34 retirou essas determinações e deixou como única restrição a obrigatoriedade do voto, só prevista para os homens. Apenas em 1946 o voto feminino passou a ser obrigatório também para as mulheres.” Ministério Público Federal.
Hoje, é assegurada a presença de 30% de mulheres por partido, disputando o processo eleitoral e essa cota vale apenas para candidaturas. O que isso quer dizer, pragmaticamente? Que as mulheres (e digo, infelizmente) são convidadas (convocadas) a se candidatarem apenas para que os partidos atinjam o quórun. Entretanto, durante o tempo em que estão candidatas, não recebem qualquer tipo de formação, tão pouco, incentivo. E assim, vão mais uma vez, são tratadas como item de composição de uma cena, onde são impedidas de serem protagonistas, agentes reais de transformação. #ReformaPolíticaJá!
Nas ruas, o número de pessoas segurando bandeiras e entregando panfletos, já é bastante significativo. São pessoas que recebem de R$ 30 (reais) a R$ 50 (reais) diários, para ficarem em pé, no sol, por várias horas, espalhando o rosto de pessoas que muitas vezes, elas e eles nunca viram. Tentando convencer, sem estarem convencidxs. A grande maioria dessas pessoas, sem acesso ao histórico político das pessoas que estão a defender, são mulheres. Vamos especificar um pouco mais: são mulheres negras, jovens, mães e sem formação educacional. E enquanto esse público não for formado (leia: formado, não formalizado) e não entender que é quem pode intervir na construção de uma sociedade mais justa, não avançaremos.
As mulheres que ocupam os espaços na gestão pública, enfrentam grandes desafios para executarem seu trabalho. Primeiro porque quando as convenceram à disputa, não acharam que ela iria querer ocupar o espaço que conquistou. Parece confuso? É. Eu sei. Mas é assim que funciona: “se não fossemos nós, você não estaria aqui.” E vários outros fatores irão interferir. Mulheres são mães, donas de casa, esposas. Acumulam funções. Sentem dores e não são menos capazes por nenhuma dessas razões. Se mostram, inclusive, mais fortes, por acumularem em si, a vontade de serem maiores, de não desistirem. E não desistem.
Estar em um espaço de maioria masculina e defender mais rigor nas leis que punem a violência contra a mulher, quando o agressor histórico e cultural é o homem, é um desafio gigantesco e enfrenta-lo, não tem sido negado. São as mulheres que estão mudando as histórias das mulheres. No contexto político, isso quer dizer que elas ganharam força perante a sociedade. No contexto da luta, quer dizer que elas cansaram de esperar. Saíram dos seus habituais aventais, pintaram o rosto, queimaram preconceitos e estão saindo do ciclo de opressão. Eleger mulheres é também assegurar que um projeto político responsável e qualificado, precisa atender necessidades específicas e que elas crescem a medida de que as minorias são conscientizadas do seu poder e preparadas à argumentação.
Empoderar, ocupar, resistir.
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