“Não
me irrite, por favor. Não gosto de drama. Sua mãe? O que tem sua mãe? Você
deixa tudo pela metade. Ninguém te respeita. Você não tem nada. Ninguém queria
você lá. Se não fosse eu, você não estaria lá”.
-
Ufa. Acordei. Sabe aqueles sonhos que você sente que está caindo, mas sempre
acorda antes de cair e nunca sabe como acabou a queda? Se dava em mar, em chão,
em nuvem. Esse foi diferente. Foram dias caindo e eu sei como acabou.
Você
já colocou seus sonhos nas mãos de alguém? Uma menina, uma vez, colocou os
seus, nas mãos de seu padrasto. Ele acabou achando que era parte do sonho dela
e indo visitá-la todos os dias em seu quarto. Um pedreiro uma vez, acreditou
que o dono da escola que estava a construir daria uma bolsa de estudos a sua
filha. Não aconteceu. Um homem, acreditando no amor de uma bela mulher
casada, aceitou ir até a sua casa.
Acabou assassinado pelo marido traído. Uma jovem, encantada por lindos olhos
verdes, aceitou a espera e viveu de esperar.
Longe
de mim dizer-lhes que não sonhem. Acontece que tudo está divinamente,
magnificamente, estrategicamente ligado.
Muito
tempo atrás, Adélia quis ser escada. Ela dizia que fazer subir e estar presente
na decida, faria dela um ser elevado, puro, digno. Então, ela lutou pra ser
escada. Tornou-se. Para isso, ela esteve sempre alerta, sem nunca negar-se a
uma subida ou a uma decida. O “problema”, é que Adélia queria que as pessoas
que subissem, fossem gratas e as pessoas que subiam, não achavam que deviam.
Afinal, ela era uma escada. Era ou não a sua função?
Talvez,
a gente olhe muito pouco para os lados e dê muitos nomes a coisas que deviam só
fazer sentir.
A
menina nunca contou a mãe sobre o padrasto. Cresceu e descobriu-se feminista e
foi pras ruas lutar pra que outras meninas não passassem o que ela tinha
passado. O pedreiro nunca mais trocou serviços por promessas e aprendeu a
trabalhar com contratos. Ele me disse assim: “Eu ainda confio nas pessoas, mas
não conheço todas elas”. O assassinado por assassinado mesmo. Mas a bela mulher
conseguiu abandonar seu marido doente e violento. A jovem encantada por lindos
olhos verdes, ainda suspira. Mas hoje ela espera vivendo.
Adélia.
Ah, Adélia se desfez. Não mais escada, transformou-se em prateleira de
biblioteca e passa todos os dias de sua vida vazia de arrependimentos, lendo e
entendendo como as pessoas podem cair dos sonhos, em outros sonhos.
#lindo
ResponderExcluirMagnífico...
ResponderExcluir#sensacional!
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