Dos dias que posso ouvi-lo, guardo. Deixo gravada a voz. Dos dias que posso lê-lo, escrevo. Dedico breves minutos a ser ridícula, infantil, exposta, como posso ser em raras situações. Dele, me livro do que não pode. Dele, eu tudo posso. Nos textos dele, não há mais a necessidade das vírgulas. Dos pontos, dele.
O homem que nunca me quis, mesmo quando me teve, ainda é o dono dos meus melhores suspiros. Ainda sabendo da não querência, eu abro largos sorrisos de lembranças. De vinhos. De cheiro de mar. De mãos sobre a minha perna. De portas abertas. De café forte. De polo preta. De sonho.
Não me querendo, ele me cantou Hilda Hilst, por Maria Betânia. Não me querendo, ele me ressitou Eros e Psique, de Fernando Pessoa. Não me querendo, ele me faz parar de pensar que era menor que ele e cá estou eu, agigantada. Não me querendo, ele me fez passar a sonhar com mais noites de pés juntos e cobertas azuis.
Eu não mais terei. Mas desejar, me faz acreditar que meu coração ainda é quente.
Tem quem chame de ilusão. Eu chamo de pureza. Não seria capaz de denominar inocente, porque querer é sempre carne. Eu chamo de clareza em baixo do sol: amplia. Me cresce. Entretanto, anoitece. Do que acontece? Envelhece. E o que ilumina, jamais padece.
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