Como fosse escrito por Almodóvar, nosso grupo que antes viajaria em um coletivo, conseguiu uma carona aos 45 minutos do segundo tempo. Depois de voltas em quarteirões, entramos em mais uma rua errada e no errado, não por acaso, havia você. Com um 'Q' de comédia almodoveriana, a cena foi acontecendo bem devagar, com pitadas de sensualidade e delicadeza.
O ato sensual do teu 'acender cigarro', já me era lembrança presente. Nos vimos algumas vezes fazendo-o. Acender como propósito noturno de entretenimento. Na cena lenta, tinham várias coisas que eu não pude identificar precisamente: impulsividade, passionalidade, pressa e mais uma pessoa. Esta, frágil, delicada, sendo guiada.
É engraçado como esse mundo é, sabia?! Porque eu senti a tua respiração pouquíssimas e contáveis vezes, mas eu te senti respirar. Eu do lado de dentro. Tu do lado de fora. Em fração de segundos, dentro de um carro, eu vi teto espelhado, corpo esparramado, lençol suado. É. Tu estavas do meu lado. Vezes do lado de dentro, vezes do lado de fora. Espelhado.
Como nos finais de filmes premiados por deixarem soltas demais ou amarradas demais as possibilidades, seguimos por caminhos contrários. Eu te tendo dentro, tu sem saber que havia entrado.
Não é de bom tom ser uma mulher de Almodóvar, no teu contexto de entrada, porque teus cigarros são regrados e as mulheres dele, ah, as mulheres dele não tem regras. São putas e mães amáveis ao mesmo tempo. São delicadas e ferozes. São lindas sem formas definidas. São coloridas. São quentes. Gozam fazendo barulho. Me é estúpido criticar-te por isso. Te é estúpido não me amares, mas, mulheres de Almodóvar, são amadas primeiro por elas mesmas e eu te compreendo em teres pressa. A pressa é o comum dos tempos modernos. Estou vivendo em antiguidade. Sendo relicário. Sendo colecionadora de homens de Almodóvar. Eles sempre vão embora. Mas sempre voltam a passar. Sem pressa.
Ah, as Mulheres de Almodóvar. Adoro vir aqui ver teus textos, parabéns babi!
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