sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mar.

Quando eu tinha 10 anos, eu queria ser professora. As crianças onde eu morava, não curtiam muito a ideia de ir todos os dias na escola e eu achava o máximo saber de coisas que eles não sabiam. Hoje, eu entendo que eu não era melhor que eles em nada, porque eles sabiam de coisas que eu não sabia e eu nunca me importei em perguntar. Tive que aprender na prática. Tive que sentir a dor.

Mais tarde, eu quis ser médica. Achava tão bonito a possibilidade de cuidar das pessoas. Queria ser pediatra, estar ligada às crianças, perto delas. Depois quis ser psicologa de criança. Eu queria entender como elas podiam ser fortes e guardar segredos que adultos se assustariam se soubessem. Queria poder dizer a elas que ia terminar tudo bem e que quando elas fossem adultas, elas não sentiriam mais nada. Hoje, eu entendo que falharia, porque elas ainda sentiriam. Ainda não entenderiam porque quando crianças, os adultos não entendiam e elas tinham que entender. Hoje, ainda que fossem adultos, eles teriam dúvidas, medos e segredos.
Comecei a escrever porque não podia falar. Comecei a escrever porque era criança. Então um dia, disseram que eu era boa contando estórias e eu passei a escrever compulsivamente, todo um dia uma novidade, sem ter discernimento do que era mentira e do que era verdade. Atraia a atenção e por minutos breves, eu deixava de ser criança, de ter segredos, porque sempre que tu conta uma estória, sempre que tu vira um personagem, o resto some. Por minutos breves, tu te torna um conto. Mas nada, absolutamente nada do que tu diz, é mentira.
Então, eu passei a sonhar alto. Passei a imaginar um mundo onde todas as pessoas pudessem contar estórias, fossem sobre qualquer assunto: viagens, amigos, política, amores. Um mundo onde imaginar fosse prioridade e as pessoas se permitissem sonhar. É tão difícil falar de sonho quando a gente não é mais criança. Dizem que a gente mente, você pode acreditar? 
As pessoas dizem que são normais e que não há espaço para sonhadores nesse mundo. Dizem que a prática é o critério da verdade, mas debatem mais tarde o que é verdade e ao final da conversa, dizem que verdade é relativa e que na prática, ninguém está de fato errado; está apenas fazendo o melhor para si. E no final das contas, quem não está?
Hoje, eu queria banho de mar, grama e almofadas grandes. Queria porque foi o que sonhei e sonhei porque me foi permitido o sonho. Não tive. Mas ao contrário de quando eu era criança, eu não questionei e igual aos tempos de criança, eu fiquei triste. A maior diferença e mais significativa, é que hoje eu posso resolver ir no mar, sem esperar por ninguém. A maior diferença, é que hoje eu posso buscar sozinha tudo o que me foi negado. A diferença mais bonita, é que me foi permitido sonhar. Ás vezes, eu esqueço que posso. E posso.
É bom poder abrir os braços e estar sempre pronta, de novo, novamente e mais uma vez. É bom poder contar estórias de mar e da ausência dele. É bom ter a certeza de que entregar-se ás "invenções" que façam sorrir, será sempre válido, porque aquele que vive de amor, mesmo que inventado, terá sempre o dom de desfazer e começar de novo.
Hoje, eu ainda quero mar, grama e almofadas grandes, porque as estórias são minhas e eu escrevo e reescrevo de acordo com o tamanho do meu sorriso. Comecei a escrever porque não podia falar. Hoje, se eu ainda escrevo, é porque posso falar e contar cada dia mais estórias. De verdade ou de vontade dela.

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