Estava me descolando da
Mustardinha (subúrbio de Recife). O relógio marcava por volta de 16h. Peguei o
ônibus, como de costume, na primeira parada após o terminal e estava com a
cabeça recostada no vidro. Duas paradas depois, em frente a uma loja de acessórios
de carro, dois jovens são abordados pela polícia. Dois homens, um em cada moto.
Quando ouvi a sirene, não me
preocupei com os que me chamariam de curiosa e coloquei a cabeça pra fora. Não
fui a única.
Não sei se há uma pesquisa sobre
isso, mas, dentro da comunidade, ninguém espera por dados comprovados, pra
dizer que: jovem, de cabelo em corte moicano, usando corrente de prata e
pilotando a famosa cinquentinha, é ladrão. Infelizmente, esteriótipos são
criados todos os dias e há os que aceitam sem muito questionamento. É como
dizer que mulher de roupa curta é puta, que tatuado é vagabundo e maconheiro é
ladrão. 'Ah, se eles soubessem a preguiça que dá depois de um baseado'.
Aqueles dois policiais foram
treinados assim. Pra coagir todos e quaisquer esteriótipo "nocivo à
sociedade". Eram homens grandes, daqueles que você tem medo até de olhar
duas vezes. Saculerajam os meninos. Mandaram colocar mão na cabeça. Testículos
apalpados. Não, não foi com o mínimo de educação. "Eita, os ovos dele
ficaram mexidos", disse o senhor sentado atrás de mim. Pediram documentos,
os dois apresentaram. Pediram pra abrir o compartimento da 'motoca' que fica
sob o banco. Abriram e lá, não havia nada. Pronto. Mandaram que eles
"saíssem saindo".
Pronto? Não vai pedir desculpas
pelo constrangimento causado? Baseado em que aqueles meninos foram abordados?
Foi o corte de cabelo? A cinquentinha?
Fui apenas espectadora, mas essas perguntas foram passando
na minha cabeça e foi me dando agonia de pensar que mais ninguém estivesse
inquieto ou inquieta como eu. Consegui organizar em 3 minutos, qual seria a
ação justa: suspeito. Vou esperar ele passar da frente da loja e fazer sinal
pra ele entre na rua. Tiro ele da Avenida, não o exponho e não tenho curiosos
pra atrapalhar o meu trabalho.
Agora, imaginem a abordagem: Boa
tarde, mãos na parede, por favor (é fato que o "suspeito" pode estar
armado), recebemos uma denúncia que o senhor está portando certa quantidade de
drogas e que estaria indo fazer uma entrega e por isso, eu preciso lhe revistar.
Terminada a revista: Muito obrigada por sua colaboração e espero que entenda
que estou fazendo o meu trabalho.
É, mas era o meu ideal. Nem tive
muito tempo mais para "sonhar". As motos e as sirenes já estavam em
outra direção. A cinquentinha também, levando para algum lugar, dois jovens que
podiam apenas estar indo à padaria e que foram abordados e constrangidos em uma
via pública e movimentada, dentro do lugar onde vivem e que agora, que podem estar
absolutamente revoltados.
Seguem as motos. Segue a cinquentinha.
Valeu Barbara.
ResponderExcluir