"O que é você anda fazendo de errado menina? Está indo nos lugares certos, com as companhias certas, nas horas certas? O que você anda vestindo? Que sapatos são esses? Quer dizer que agora você está envolvida com política? O que é que você fez nesse cabelo?"
Iguais a essas, ouvimos milhares de perguntas que eu, particularmente, não consigo entender. O que são lugares certos? O que tem o meu cabelo? Como assim eu estou fazendo política? Achei que todas e todos faziam isso o tempo inteiro. Mas, mesmo que eu não entenda, essas perguntas permanecem sendo feitas diariamente, dentro de milhares de casas, de salas de aula, de bares, de filas e muitas mulheres ainda acham isso de absoluta relevância e entram em crise só de pensarem que não conquistaram aquele homem lindo e maravilhoso, porque gemeram alto demais. "Bote fé Carlão. A doida gritava. Isso lá é 'mulé' de levar pra casa?"
Duas amigas saem da casa de uma delas pra tomar uma cerveja por perto, o táxi dava uns R$ 8 (oito), não tinha perigo de voltar pra casa só. Elas tinham a grana da cerveja, trabalharam pra isso. Elas estavam lindas, roupa, sandálias, maquiagem, tudo comprado por elas. Elas tinham passado o dia com outras pessoas (em sua maioria mulheres) que também moram sozinhas, pagam suas contas e se viram muito bem assim. Todos os homens que pararam do lado dessas duas mulheres não ofereciam nenhuma conversa interessante que durasse mais de 5 minutos. Me respondam agora por favor: Que diferença esse cara faria na vida delas? Não me fale que sexualmente. "Eu gosto de conversar depois de dar uma".
Em muitas vezes quando se observa uma mulher "sozinha", isso pra sociedade que eu critico, aquela que analisa mais não conhece, se diz da homesexualidade dela. "Mulheres sem homens gostam de mulheres". Não! Não necessariamente.
Há tempos, comecei uma conversa na faculdade com uns colegas. Por andar muito mais com homens, tive certa facilidade. A pergunta inicial da conversa era: Você namoraria uma mulher que fuma maconha, usa roupa curta, fala palavrão, tem muito amigo homem, dorme fora de casa, é ligada a partido político e as vezes quer sair sozinha? Poucos me disseram que não. Entretanto, daquele jeitinho curioso, fui sondando as namoradas. Meninas meigas, delicadas, discretas. Pois bem, quem vê cara não vê atitude. Mas o fato, é que mulheres assim (as que eles dizem que namoram) normalmente tem suas vidas ocupadas com livros, formações, amigos, viagens, debates e deixam suas vidas amorosas um tanto pra depois. Será?
Como eu disse lá no começo, isso aqui não é uma pesquisa científica, mas eu acredito que esse pensamento aí esteja errado. Nos apaixonamos, nos permitimos, nos entregamos (me colocando no grupo das mulheres que eles dizem que namorariam). Mas estamos em busca de uma sociedade justa e igualitária, onde eu não precise me preocupar com que roupa eu estou vestindo, nem com que palavras usar pra impressionar qualquer pessoa.
Escreve aí pra aquele menino com quem tu tá afim de sair tem uma data. Vocês já se falaram milhares de vezes, já rolaram altas coisas marcadas e não cumpridas. Escreve assim: Oi, tudo bem? Tava pensando em passar na tua casa hoje, rola? Espera a resposta. Tá, tudo bem, eu to sendo cruel né? To com mania de perseguição. ¬¬
Minha mãe me para esses dias e diz: Eu até queria namorar, mas quem? Os homens da minha idade (47) querem mulheres de 25, não admitem meus netos e ainda querem que eu passe o dia cozinhando. Pode?
Eu até quis responder, mas não precisava. Ela deu as costas e seguiu, como sempre fez. Mãe aos 19, depois aos 22, depois aos 23, com um marido dependente químico, ela acaba de se formar em Licenciatura Plena em História e agora cursa a sua sonhada Pós Graduação em História Contemporânea. Alguns homens passaram por ela. Alguns só levaram, outros, pouco deixaram. Mas ela ficou e ficou forte, ficou sem parar, ficou sem cair.
Por ela, eu sei desde pirralha o que é 'punheta', porque sexo dentro de casa, é melhor que sexo na esquina. Por ela, desde adolescente, eu sei o que é camisinha, porque sexo seguro é melhor que sexo nenhum.
E se dentro da minha casa eu tenho a mulher que passou por tantos obstáculos na vida pela minha sobrevivência, vou me preocupar com alguem que há pouco era quase um estranho e que resolveu reclamar das minhas roupas na frente dos amigos só pra afirmar sua masculinidade? Por respeito a minha mãe e a tantas outras mulheres de luta, Não!
Eu saio com quem eu quiser e isso não é submissão, é escolha.
Eu falo dos meus desejos e vontades e isso não é exposição, é poder de decisão.
Eu falo alto porque eu quero alcançar mais mulheres.
Eu uso roupas curtas porque eu quero e não tenho que explicar isso a ninguem. (meu corpo)
Eu batalho, eu acordo, eu grito, eu gozo, eu choro, eu expulso, eu recebo e ainda assim, terão aqueles que me chamarão de puta depois de lerem isso.
Honradas sejam as que tem coragem de entregar seu corpo pelo prazer de um outro e pelo sustento de alguns outros.
"A nossa luta é todo dia. Somos mulheres e não mercadoria".
Modelo: Luara Ramos, 20 anos, mireira, Militante do Movimento Mudança e do Movimento de Ação de Identidade Socialista do Espírito Santo.
Fotografia e Edição: Adrielley Caliman, Bahia.

[Salva de palmas, de pé]
ResponderExcluirFoda! Se garantiu!
amei!
ResponderExcluirmuito foda, essa é uma luta diária e que precisa ser feita por todas nós e pelo homens tbm.
xeroo
Putz, texto fudicore, gostei muito!
ResponderExcluire detalhe, eu me encaixo e queria muito namorar uma pessoa que fizesse tudo isso que tu disse acima, seria massa e muito diferente do que acontece geralmente comigo!
Plavras ditas, vermos agora se serao absorvidas. E bom jogar na cara assim mesmo, melhor dizer, lutar, agir, fazer e acontecer que se esconder a traz de uma sociedade covardia.~
ResponderExcluir(Nao sei se meu portugues esta certo, preciso voltar a estudar minha linguam com urgencia!)
Bárbara, que prazer foi ler seu texto, apesar de tratar da triste realidade a que nós mulheres ainda somos submetidas. Talvez seja pelo desabafo que eu me identifiquei, mas sobretudo a presença de um ícone materno tão forte como o teu, me fez saltar a imagem da minha própria mãe.
ResponderExcluirFelizmente não estamos aqui para satisfazer os outros, ainda mais aos machistas que não nos aceitam exatamente como somos, de luta!
Estamos e só podemos satisfazer a nós mesmas. A nossa busca é pelo respeito. Ao próximo, às opiniões, mesmo quando divergentes, e a nós mesmas.
Saudações, companheira.
Fé e força, porque a luta continua. Sempre. Até a vitória.