terça-feira, 21 de junho de 2011

A Onda Brega

Em festas populares a "música brega" já é febre há bastante tempo. Comunidades suburbanas fornecem todos os dias mais artistas ao mercado, assim como adeptos do ritmo. O que chama a atenção hoje, é que a classe média Recifense está entrando (com tudo) nessa onda que promete pegar.
O que costumeiramente se via em bairros como Casa Amarela e Mustardinha (subúrbio de Recife), já invadiu bairros como Espinheiro e Casa Forte. "Cocotas e Mauricinhos agora descem até o chão", diz Emanuelina Rocha, estudante de Publicidade, frequentadora de Shows de reggae que agora se rende ao gingado do brega. Me ligou uma amiga semana passada: "Meniiiina, vai ter Sheldon na Mercearia Amélia". Oi?
Há anos, grupos feministas fazem duras críticas às letras das músicas que "denigrem a imagem das mulheres", como por exemplo na música Te agarrar e Jogar na cama da banda Ritmo quente, que diz (na voz de um homem): "Ei amor, please, vire-se", que faz referência a uma posição sexual de submissão.
Já foi dito que brega não é cultura, que é massificação, dominação dos menos favorecidos. Mas vemos claramente (e falo como moradora de bairro pobre) que as comunidades que tem os 'seus' talentos reconhecidos, o tornam liderança. Exato, liderança! As mulheres que fazem parte das bandas, costumam ser arrimo de família e tem estórias de vida com muita luta em seus cotidianos. Além disso, muitas das músicas tratam de situações que envolvem machismo, preconceito e violência. "Me convidaram pra um brega, o difícil foi entrar. Um sujeito me empurrando, eu comecei logo a falar: Relaxa, eu vou entrar. Relaxa, desse jeito eu vou gozar", da banda Frutos do Amor, trata de um homem abusando de uma mulher em uma fila. "Se fudeu, levou um bale".
Sou fã de Chico Buarque, pela sua atuação política, pelo seu talento musical, mas me pergunto sempre que falo de machismo em músicas: Tem compositor mais machista que o Chico? Letras de músicas com Atrás da Porta e Eu te Amo me dizem que não. A diferença está no arranjo, a escolha de palavras e a delícia que a voz do carioca é. Mas essa é a minha opnião apenas. Apenas.
Compramos um CD de brega por R$2 reais com "Os 20 maiores sucessos do brega". Sem gravadora, sem empresários das estrelas, fica muito mais fácil atingir as comunidades pobres. "Eu dou não 20 conto pra ouvir aquelas música de playba não".
O brega relata o dia a dia da comunidade e faz com que as pessoas que ouvem se sintam mais perto. É como se fosse mais fácil ser fã do MC Metal que da Banda Mais Bonita da Cidade. (Oi?) Não passa um carrinho vendendo esse som aqui na Mustardinha (meu bairro).
Aí me vem uma galera dizendo: "Isso é falta de interesse, porque eu também moro em favela, mas procuro conhecer outras coisas, outras realidades". Boto fé. Eu nasci aqui, moro na mesma casa há 26 anos, mas a minha mãe ouvia Maria Betânia, meu pai era fã dos Beatles e eu cresci ouvindo esses sons. A menina que mora lá na esquina, que o pai dela trabalha o dia todo e bate na mãe dela e que deixa ela cuidando dos 3 irmãos, não tem paciência pra ouvir "eu quero uma casa no campo onde eu possa plantar muitos rocks rurais". Ela quer ouvir coisas práticas, rápidas e que tirem ela daquela situação.
Não quero dizer que é impossível, que os moradores de bairro pobre não podem ouvir Música Popular Brasileira, mesmo que ache que música popular brasileira, seja música que toque no Brasil e que de preferência, alcance as massas. Oras, tudo aquilo que atinge alguem de forma positiva, não é cultural? É a cultura daquela localidade e eu não me vejo no direito de chegar dizendo que o que eles tão ouvindo é ruim. Que direito eu tenho? (E até tento)
Entretanto, o mundo já passou por tantos preconceitos e tantas evoluções que eu não vejo como qualquer grupo interferir definitivamente em um outro. Eu posso sim apresentar outras possibilidades, mas respeitando o espaço, o desejo e acima de tudo, a cultura do outro.
No psy, no samba, na bossa, no reggae, no brega, porque "sei que tudo não é como a gente quer, mas estou falando de amor".

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