Maria nunca foi miserável. Maria
foi bem educada, morou em muitas casas e não amou de verdade, nenhuma delas.
Maria, feita toda, cada pedaço de conceito, sonho, utopia, e ausência de
necessidade em se expor, ela acha que essas são palavras feitas para convencer
e que a ela, não convencem. Tudo ocupa apenas uma categoria. A das tentativas.
Muitas vezes ela não sabe o que
está fazendo e ainda assim, acha incrível ter a dúvida. Como não acredita em
certo e errado, no âmbito da normalidade, ela não julga o julgamento que
recebe. Não poderia. Para ela, seios caídos. Para ele, fotos durante o período
menstrual.
No sexo, Maria não pede. Serve.
Não tem qualquer explicação sobre o tema e diz que não vê a necessidade de
tê-la, afirmando que as pessoas questionam muitas coisas que não merecem
questionamentos. Sim, por vezes ela muda de ideia. Sobre tudo.
Tocar as mãos de Maria é como tocar
qualquer parte de seu corpo. Ninguém conta sobre Maria. Ela conta e faz de
conta que não conta.
Um dia, Maria foi tomar banho de
mar. Antes de entrar, praia cheia, tirou o biquine. Caminhou não devagar, como
quem quer chamar a atenção, não rápido, como quem foge. Caminhou. Água no
joelho, curvou um tanto o corpo, pegou águas com as duas mãos e jogou no rosto.
Mais exatos cinco passos, mergulhou. Foi trazida e superfície por mãos pesadas,
as mesmas que lhe levaram até a faixa de areia, lhe cobriu e lhe levou até o
lugar que seria sua nova casa. Sedada, controlada, não virgem. Nem perto.
Maria não
se apaixonou por seu cuidador e sim por seus cuidados. Em silêncio, ela fez
amor com ele por várias vezes, estando só com ela mesma. Por ele, ela fez
lindos textos. Não foi o primeiro. Maria não tinha a inocência que queria ter. Então
um dia, ele a questionou: o que queres tu, Maria?
- Me
espanta que questiones se não tens em ti o desejo de saber. Pois, se eu
disser-te que quero a ti, me tomarás por louca. Se eu disser que quero a mim,
encarnarás meu salvador e dirás que isso só cabe a mim. Se eu te disser que
quero o mundo, me mandarás toma-lo. Se eu não quiser nada, sou fraca. Se eu me
mostrar ao mundo, sou vazia. Se eu me jogar do mastro mais alto de um barco,
foi no carnaval que passou. Apenas me resta ficar a olhar e sonhar com o dia em
que os rótulos que me deram, me sirvam para contar estórias de sobrevivência.
Direi: sobrevivi a ser puta. Sobrevivi a ser nada. O que me dizes?
Maria
recebeu alta na manhã seguinte, com uma enorme vontade de mergulhar nua. Ela
não devia ir. Aquelas mãos podiam ser a de qualquer anjo, assexuados. Maria,
mudava de ideia. Sobre tudo. Mergulha Maria. Mergulha.
E são tantas e tantas.
ResponderExcluirIa postar alguma coisa bem parecida com o comentário anterior. A gente segue carregando em cada nós um pouco ou muito de Marias. Demorei um bocado pra me enxergar enquanto Maria, viu? Eu era Bárbara demais e foi difícil um bocado me ver Maria... é muito simbolismo pra um nome só. Hoje não sei mais ser só Bárbara.
ResponderExcluir"Acho que mais me imagino do que sou. Ou, o que sou não cabe no que consigo ser..."
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