segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mobilidade Urbana – Acesso Periférico ao Transporte Público



            Com o crescimento “desordenado” das grandes capitais e crescente expansão dos centros urbanos, o debate a cerca da Mobilidade Urbana, tem estado cada vez mais presente nas rodas de conversas, seja ela de amigos de Faculdade ou de secretários de Governo, preocupados com o bem estar, e a comodidade de seus cidadãos.

            Tendo a chegada de grandes eventos ao país, como a Copa do Mundo em 2014 (que tem Pernambuco como palco), algumas perguntas se tornaram recorrentes. Uma delas é: estamos mesmo preparados (quanto transporte público) para receber um evento deste porte? Nós iremos aprofundar um tanto mais a questão, perguntando: estamos preparados para não segregar um evento deste porte? E ainda, Seremos capazes de não apenas maquiar um retrato já tão comum e freqüente nas nossas cidades?



           
            No Bairro da Mustardinha, subúrbio da cidade de Recife, localizada entre os bairros da Magueira, San Martin, Bongi e Afogados, existem duas linhas de ônibus que vão até o centro da cidade: Mustardinha e Bongi / Conde da Boa Vista. O terminal de ônibus fica no Bairro da Mangueira e atende todas as comunidades do entorno. Tendo uma população de 12 (doze) mil habitantes, em horários de pico (7h e 18h) o número de passageiros dentro da linha Mustardinha / Centro, chega a transportar 146 e 190 passageiros, respectivamente, como diz o cobrador S. de Souza, que faz a mesma linha há 10 anos: “Tem dias que antes de chegar na 4° (quarta) parada, não podemos mais permitir que passageiros subam”.

           

Três de abril de 2012, terminal dos ônibus Mustardinha e Mangueira e a situação que encontramos é exatamente igual a tantas outras na Região Metropolitana. Segundo a estudante Luciana Gabriela, de 19 anos, os intervalos entre as saídas dos ônibus não são grandes. “Tem ônibus saindo a cada 15 minutos”.  A maior crítica dos passageiros neste terminal é a lotação dos ônibus. Ás 7 horas da manhã, passageiros se amontoam para fazer uma das primeiras viagens até o centro da cidade. Trabalhadoras e trabalhadores que pagam o valor de R$ 2,15 reais, não tem qualquer conforto ou comodidade para chegarem até os seus trabalhos. “Até a terceira viagem do dia, eles saem cheios e por muitas vezes, quebram. Sem contar com o trânsito na Avenida Abdias de Carvalho que me faz chegar atrasado todos os dias”, diz o contador Valdir Romariz, que ainda pega outro ônibus na Avenida Conde da Boa Vista, para chegar ao seu trabalho.


Indo até a cidade vizinha, Olinda, a situação não é muito diferente. Pegamos o ônibus que faz a linha Jardim Brasil / Joana Bezerra e além da espera de 40 minutos na Agamenon Magalhães, não foi possível atravessar a roleta, até que chegássemos no Bairro de Peixinhos. Segundo o Jornalista Wictor Bernardo, a situação se repete todos os dias, entre ás 17h e 20h. “Nós enfrentamos problemas com lotação, demora, má educação dos funcionários”.


A Grande Recife Consórcio de Transporte, lançou no último 20 de março, um serviço que possibilita que o passageiro saiba em quanto tempo, o ônibus que ele está esperando, vai demorar a chegar no ponto onde ele está. Com o custo de R$ 0,31 centavos, o cliente envia um torpedo e recebe no celular o tempo estimado para a espera. “Além de esperar, você paga pra saber quanto tempo espera, porque a resposta pode ser ‘meia hora’ e você terá que esperar de qualquer jeito”, diz a professora Célia Vasconcelos. Em uma pesquisa feita via redes sociais, das 28 pessoas entrevistadas, apenas 7 tinham conhecimento do serviço, mas nenhuma delas o havia utilizado. (*)



Em uma viagem de meia hora, várias situações são “colocadas na mesa”. Cheguei a ouvir que hoje, os ônibus andam mais cheios porque o número de empregos aumentou. Mas, isso não era pra ser um dado positivo? Não era pra estarmos felizes com o número de trabalhadoras e trabalhadores aumentando? “O número de ônibus devia aumentar assim como aumenta o número de passageiros”, diz o cobrador S. de Souza, enquanto eu tento fotografar o aperto. Ouve-se dentro do coletivo, pessoas fazendo denúncias sobre carteiras de acesso falsificadas, o que pra eles, também justifica a lotação: “Dentro da Grande Recife, tem quem faça a certeira por R$ 100 reais”. Em meio a reclamações diversas, “se ao menos houvesse fiscalização...” seguimos a viagem.


Historicamente, os centros comerciais foram construídos para atenderem as classes média e alta. A classe baixa não teria acesso às compras. No entanto, quem trabalharia para as altas classes? Quem os serviria? Por essa ótica, os moradores da periferia, além de servirem aos maiores poderes, ainda tem de sacrificarem das poucas horas que tem fora do trabalho, se locomovendo até ele e/ou voltando para casa.

O transporte público da RMR é, além de ‘precarizado’ e insuficiente, extremamente caro especialmente para a população das classes subalternizadas que precisam retirar dos seus ínfimos salários, quando o tem, o dinheiro para exercer seu direito de ir e vir, previsto na Constituição Federal de 88”, afirma a Socióloga Rebeca Brayner. Mas, perante o estado, o direito de ir e vir, só é garantido quando se falar em locomoção até o ambiente de trabalho. "O que se vê nos programas e projetos da rede socioassistencial por parte do Estado é a entrega de vale-transporte para os usuários, pois, do contrário, eles não têm como acessar ao serviço. Então, como o Estado garante o direito ao lazer e ao trabalho, por exemplo, sem fornecer meios com os quais as pessoas se locomovam para tais fins?", completa a Socióloga. 


            Me disseram que, como Jornalista e em texto jornalístico, eu não poderia trabalhar com perguntas. Mas, como não? Não existem respostas concretas quando o tema é a relação entre classes. Um lado, diz que está fazendo o possível. O outro, não vê resultados. Resta perguntar. Afinal, por que o transporte público é “cuidado” por empresas privadas?



Um comentário:

  1. Concordo plenamente e nós aqui em Maranguape Um bairro com atenuantes de passageiros em um número de 88.000 habitantes, desaprova a única linha que nos dá via ao centro que ainda partilha de um serviço de que nada Integra no terminal Pelópidas Oliveira, além disso em uma corrida que ao normal levaria de 5 a 10 minutos é feita de 15 à 25 minutos pra sair dentro do Bairro, sem falar que a distancia não chega a atingir 5Km e somos obrigados a pagar ainda a Tarifa B no valor de 3,25! Se PE15/Boa Viagem corresponde a Tarifa A que é bem maior a distanci porque o meu que seletor com o onibus amarelo tenho que pagar mais caro? são perguntas que sabem responder e não respodem pra população não saber o que fazer! Mas sabemos sim, porque enquanto permancemos na inércia da ignorancia continuaresmo assim e como disse um célebre professor de historia em minha adolescência o saudoso Felix Barbosa "Massa não instruída, sociedade desorganizada"

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