A minha primeira experiência política foi em 1992. Eu tinha apenas 7 anos e testemunhei minha mãe e meu pai assistirem em casa, ao impeachment de Fernando Collor de Melo. "O rapaz bonito, que mudaria a realidade da Nação". Eles tinham as caras pintadas, dentro e fora da minha casa. Lembro de ter ficado paralisada, observando.
Acredito que uns dois anos depois, eu perguntei a minha mãe, o que era Socialismo e ela me respondeu assim: "É quando tem uma lata de ervilha com 200 grãos e se houverem 200 pessoas, cada uma delas vai comer um grão. É a igualdade de divisão". Lembro de ter ficado paralisada, observando.
Meu pai desacreditou. Não o via mais falar em política, nem ficar animado com qualquer resultado positivo para a esquerda. Morreu sem ver o Partido dos Trabalhadores 'dando pauta' ao país. Minha mãe, não. Passou a tentar entender como as coisas aconteciam por trás, no miolo.
No ano de 2000, eu estava com 15 anos, fazendo campanha pra João Paulo, prefeito da cidade do Recife. Minha mãe, empregada doméstica, reservava duas horas por dia pra fazer isso. Fazia visita aos amigos, tinha bloco de anotações com os nomes de quem procurar, a quem pedir ajuda. Ia nos comitês solicitar material de campanha. Pela causa. Pela causa. Prefeito eleito.
A realidade de Recife mudou. O orçamento participativo era orquestrado com maestria. Funcionava, dava certo. Dona Célia (a mãe), virou delegada do OP e não havia nada que interferisse na militância dela. Enquanto eu, ia vendo as coisas acontecerem. Cada vez mais de perto.
Em 2006, sem ligação a tendência alguma, trabalhei na campanha de Dilson Peixoto, para Deputado Estadual e fazendo as bem conhecidas 'campanhas casadas', fazíamos campanha para Maurício Rands, Deputado Federal.
Estou me estendendo por demais, não é? Mas é que tem me parecido nos últimos tempos, que andamos esquecendo da nossa própria história ou, estamos querendo abrir mão dela.
Lembro como se fosse hoje, da primeira vez que eu precisei montar chapa de votação, ao lado de pessoas que, ao meu entender, não eram "boas pessoas". Eu surtei. Disse aos meus companheiros que tinha nojo de política, que não sabia fazer isso. Uma hora, uma companheira me disse assim: "Se você não estiver lá, eles vão ganhar, sem você e vão coordenar, sem você". É assim que é.
Dona Célia me disse uma vez, que quanto mais eu soubesse de política, menos eu gostaria dela. Ela não entendeu João da Costa ser o sucessor de João Paulo na prefeitura. Mas, ela não questionava o nome dele para o OP, que ela tanto gostava e tanto se dedicava.
Todo esse apanhado, tem a intenção de fazer com que nós lembremos quem somos e a que viemos. Estou vendo companheiras e companheiros se estranharem como se estivéssemos em disputa com o PSDB. Expondo companheiras e companheiros, quando, se cada um fizer uma breve retrospectiva, vai se ver do mesmo lado, porque somos o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras.
Ao longo dos anos, as pessoas tendem a fazer a opção pelo que é melhor para elas ou para o meio social no qual vivem?
Acredito, vendo a minha mãe se recusar a votar em uma prévia (porque tem facebook e está acompanhando o baixo nível da troca de ofensas entre os militantes dos candidatos em disputa), que estamos fazendo o caminho de volta, quando deveríamos ser a alternativa. Acredito, que o que está acontecendo hoje, dentro de um processo bastante despolitizado, seja uma ofensa com aqueles que pintaram a cara, que deram vidas em nome da democracia, e que agora, assistem o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, ser exposto dessa maneira, enquanto nós, os futuros comandantes deste barco, esquecerem o foco da briga.
"Nosso inimigo é outro".
Não caminhamos do mesmo lado agora, mas caminharemos em breve, estou errada? Mentiram pra mim quando disseram que dentro do PT, o projeto político aprovado pelos regimentos internos, encaminham a continuidade da luta? Vamos ou não, independente do resultado das prévias do próximo dia 20, disputar a prefeitura da Cidade do Recife como todo o gás que o 'nosso projeto político' necessita?
É isso o que espera aquele operário que acorda todos os dias às 5h da manhã pra ir trabalhar e chegar em casa às 22h, porque graças ao Projeto Político do Partido dos Trabalhadores, ele pode se especializar. É isso o que espera o jovem que está nos vendo fazer campanha de Voto Aos 16. É isso o que espera a empregada doméstica que testemunhou o Impeachment de 1992 e ensinou aos filhos o que é Socialismo. ResPeiTo.
Bárbara Vasconcelos.