Fim de um dia corrido de trabalho e como diria o músico Marcelo D2, "São 10 da noite, todo mundo já cumpriu compromisso". Mas ainda não eram 10 horas da noite. Eram 18:30h e estava eu dentro de um carro conhecido, com almas boas, com pensamentos puros... Idéia: "Fumar um". E foi a idéia posta em prática no meio do engarrafamento típico do horário na Avenida Agamenon Magalhães.
Desci do carro e enquanto as almas boas seguiram rumo aos seus destinos bons, eu segui rumo a parada do ônibus, que pra mim, também era um destino bom. Era pra onde eu queria ir. E fui observando e sentindo coisas que eu queria observar e sentir o tempo todo.
Descobri que tem uma explicação para que duas pessoas se afastem, ou se percam, ou se deixem: Elas precisam abrir passagem para outras pessoas; permitirem novos encontros; Novos cruzamentos. Emocionar reencontros; Sentir os mesmos cheiros de diferentes formas, todos os dias, todos os dias...
Descobri que deficientes visuais não são assim tão diferentes de mim. Eles saem pra tomar uma. Riem, se abraçam, dizem do seu amor. Sem enxergar quase nada, ou pouca coisa, ou nada mesmo. Eu, ser racional que enxergo 'tudo', não aproveito com tanto prazer esses momentos. Quem é de fato o cego?
Descobri que 7 belo velho é melhor que 7 belo novo, por que quando ele está novo, não dá pra colocar muitos na boca. Descobri que o ônibus sempre demora mais quando a gente está esperando por ele. Mas... Alguem pega o ônibus que não está esperando? Não. Logo, todos os ônibus demoram. (Minha irmã diz que não necessariamente. Mas como eu não vou conseguir fazer ela me explicar a teoria dela...)
Descobri que chegar em casa pode ser reconfortante. E que se for só pra tomar banho e sair novamente, pode ser um problema com a minha mãe. Descobri que eu estou ficando velha. Descobri que macaxeira com charque, vira camarão na moranga do lado dela, que Cheiro de amor não é tão ruin e que a praça não é tão perigosa.
Coisas que passariam (e até passaram) despercebidas, ganham representação iluminada. Viram sorrisos que alguns "deles" nem notam. Na loucura, a gente entende que não precisa que eles notem. Hoje eu quero dizer e não esperar a percepção alheia. Posso faze-lo pela liberdade que tenho e pelos sorrisos disfarçados que ganho.
Almas boas... Pensamentos puros...
Alguns dias são mais longos que outros dias. E esses, são feitos de sofrer. De entregar-se a garrafas de cerveja, a copos cheios, a gargalhadas que não findam, a amigos que funcionam como tanques e neles, a gente se joga. Não sei quantas horas tem esses dias. O que sei, é que eles não acabam. A impressão que tenho é que ele será pra sempre.
Depois de sair dos tanques, há de se querer pegar a barca e voltar pra casa. Sem cervejas, nem copos (cheios ou vazios)... Foi então que notei que era um dia longo. De acordo com as minhas contas, esse dia já dura um milhão de estrelas. (a contagem é individual e eu gosto de usar estrelas)
Vi algumas delas se apagarem. Outras se acenderem.
Vi alguns tanques tentarem aproximação sem muito sucesso, pois me viciei nos tanques velhos.
E esse dia não acaba. Não importa o que eu faça. Se eu não o questiono, não acaba. Se o questiono, se arrasta, tentando me explicar a razão de tanto durar. Me falam que esse dia só termina quando eu assim decidir. Eles não escutam quando eu falo que eu já encerrei esse dia, muitas vezes. E que ele sempre começa de novo e novamente e mais uma vez.
Talvez seja um dia de fato eterno e que a solução não seja desejar o seu fim, mas vive-lo, com todos os seus afins. O tempo na barca de volta pra casa, me fez admitir (duramente) que aquele projeto de dias curtos não existe mais. Que a partir de hoje, (justo hoje) os dias serão sempre longos e inacabáveis. Dias com alguma coisa faltando.
Outras coisas virão. Salas se entupirão de móveis que não farão o mínimo sentindo. Mas, o tempo na barca de volta pra casa, me fez admitir (duramente), que aquele projeto de dias curtos, não existe mais. E então, o que se faz do amor? Eu ainda não sei o que ele significa. Se quer dizer deixar livre, se quer dizer brigar pra ter.
Não sabendo o que dele fazer, permanecerei o deixando no ar. Solto, livre, como o vento. Talvez ele torne a guiar a barca. Enquanto não, outros mergulhos serão dados. Em mares distantes, pra que dessa forma, meu corpo não cause qualquer tremulação de outras águas.
Nesses dias longos (que agora sei, serão eternos) eu tenho o desejo egoísta de que qualquer mergulho que aconteça (de corpos que não mais me pertencem) sejam dados longe de onde passa a minha barca. Não tenho esse direito. E por não ter, serei feliz de saber que os planos de dias curtos, podem nascer de furacões. No meu, ou em outros mares.